Na Festa de Corpus Christi somos levados a recordar as cenas da
Instituição Eucarística. Toda recordação é o gesto de quem traz ao coração
aquilo que lhe é muito caro. Por essa razão é fascinante saber que ali no dom
do Pão Eucarístico se esconde o tesouro e os mistérios da nossa Salvação. É a
lembrança de que o pão significa tudo aquilo de que temos fome. Temos fome de
amor, de cuidado, de afeto, em uma palavra: de plenitude.
Essa relação do pão com a fome nos ajuda a
compreender o cumprimento da promessa em Jesus quando se distingue do maná que
os israelitas comeram no deserto. “Em verdade,
vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o
verdadeiro Pão, porque o Pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao
mundo. Eu sou o Pão da Vida. Aquele que vem a mim não terá fome, pois o pão que
Eu Vos dou é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 32-33; 35; 51).
Em pleno deserto da humanidade, Cristo afirma que
pode nos saciar. No deserto do vazio interior, no deserto dos sentimentos, nos
desertos mais secretos e escondidos da condição humana... São nestes desertos
que Jesus se faz alimento, nos nutre nos permite caminhar. Faz-se alimento,
porque refeição é devolução, é restituição daquilo que perdemos. Alimentamo-nos
diariamente para devolver ao corpo aquilo que lhe foi subtraído e perdido. Cada
refeição é lugar e oportunidade de se restituir. A refeição é tão redentora que
alguns encontros de Jesus se deram pela força do seu desejo de sentar-se à mesa
com aqueles que precisavam ter a Vida Plena devolvida. O prato principal não
era material, mas sim a Vida!
Para entendermos um pouco mais da beleza da
refeição enquanto devolução, encontramos Jesus que salva Zaqueu e toda sua
família a partir do jantar (Lc 19, 1-10); em Betânia Ele entra na história de
Simão, o Leproso (Mc 14, 3), e antes de partir faz a sua Última Ceia, se
sentando à mesa para fazer refeição com seus amigos. Interessante é que
nas duas primeiras refeições, o Mestre lhes ensina que quando nos sentamos à
mesa, não nos alimentamos tão somente do que está posto sobre ela, mas,
sobretudo de quem se serve dela. Alimentamo-nos do olhar, do amor, dos gestos,
do afeto, e de tudo o que o outro significa. O outro nos nutre, nos devolve,
nos restitui...Por isso é edificante nos sentarmos à mesa e fazermos juntos a
refeição cotidiana. “Comer e beber
juntos significa estarmos comprometidos. O banquete não é lugar para saciar
somente a fome do corpo, mas também a fome da alma. Ao estar com os que amo
para me alimentar, de alguma forma eu os trago para dentro de mim.”
Com os discípulos o significado da refeição fica
mais claro e ganha um sentido mais redentor, pois ali a Salvação acontece.
Jesus se senta à mesa e torna-se a refeição na qual todos os convidados se
alimentam. Em Jesus, os desertos da história daqueles discípulos dão lugar à
vida nova. No Cristo, o Verdadeiro Amor se traduz, e faz o Pão se transformar
em Seu Corpo e o Vinho em Seu Sangue. Ali o Amor foi mais revelador que as
palavras porque se estendeu até o Sacrifício do Calvário. Jesus identificou o pão
que repartia, com a carne que Ele daria para a vida do mundo e o cálice de vinho
com o seu Sangue Redentor. Somente o Amor é capaz de se fazer tão pequeno para
tornar o homem grande. Quando nos alimentamos dele em cada Missa a nossa sede
de eternidade é saciada. Em cada Eucaristia celebrada a fome da terra é
apaziguada pelo Céu. Felizes são os convidados para este Banquete!
Jerônimo Laurício - Bacharel em Filosofia
Extraído dos site: http://www.catequisar.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário